Ninguém subestima a importância do sol para a evolução da vida na terra e para a sobrevivência do ser humano. Contudo, todos somos potencialmente suscetíveis aos malefícios da exposição solar, nomeadamente da radiação ultravioleta (UV), sendo que a dimensão dos danos depende do nível e duração da exposição e da suscetibilidade e resiliência do organismo exposto.
Os efeitos a curto prazo da exposição solar manifestam-se sob a forma de eritema e queimaduras, reações de fotossensibilidade provocadas por fármacos, e aumento da pigmentação cutânea (bronzeado). Por sua vez, a exposição crónica excessiva é responsável por induzir alterações na estrutura celular normal e função da pele quebrando cadeias de ADN, dando origem ao envelhecimento prematuro da pele, assim como pode provocar imunossupressão e lesões precursoras de cancros cutâneos.
O aumento do risco de desenvolvimento de cancros cutâneos representa a complicação mais séria, a longo termo, da exposição à radiação UV. A exposição solar cumulativa elevada (diária) aumenta o risco carcinoma espinocelular, enquanto a exposição solar intermitente (férias 1 a 2 vezes por ano com exposição solar muito acentuada) constituiu fator de risco para a ocorrência de carcinoma basocelular e de melanoma maligno.
Porém, é necessário referir que a exposição à luz solar tem também múltiplos benefícios para a saúde e bem-estar físico e mental. Entre os principais benefícios está a produção cutânea de vitamina D.
A vitamina D pode ser obtida através da alimentação, mas é sobretudo sintetizada naturalmente na pele a partir da exposição à luz solar, sendo que a síntese varia bastante em função da pigmentação, estação do ano, latitude, idade, vestuário, uso de proteção solar e condições meteorológicas. Esta vitamina tem como efeito biológico principal a promoção da mineralização óssea e a regulação da homeostasia do metabolismo cálcio-fósforo, favorecendo a absorção destes minerais no intestino e regulando as células que degradam e formam os ossos, mantendo os seus níveis no sangue.
Assim, uma deficiência de vitamina D causa malabsorção de cálcio conduzindo a alterações ósseas, como a osteomalácia ou a osteoporose nos adultos, e raquitismo nas crianças. Além disso, alguns estudos científicos correlacionam a carência de vitamina D com um risco aumentado de desenvolvimento de patologias não ósseas, nomeadamente doenças cardiovasculares, neoplásicas, autoimunes, neurológicas, diabetes, entre outras. Não obstante, são suficientes 5 a 15 minutos de exposição solar casual das mãos, face e pernas duas a três vezes por semana para manter os níveis de vitamina D altos.
A luz solar exerce ainda bastante influência na regulação do ciclo sono-vigília. A luz do sol, detetada pela retina do olho, envia uma mensagem a uma região específica do cérebro que, por sua vez, funciona como o nosso relógio biológico, sincronizando todos os nossos ritmos e ajudando a manter um padrão de cerca de 24h.
A luz no nosso ambiente permite que o cérebro saiba que os sistemas que geram o estado de vigília estão ativos. Da mesma forma, quando anoitece, o nosso corpo começa a libertar melatonina, conhecida como a hormona do sono, e a temperatura corporal diminui, o que nos ajuda a ficar menos alerta e mais propensos a iniciar o sono. Ao amanhecer, o nosso organismo responde aos sinais de luz do dia e deixa de produzir melatonina. A luz do sol funciona como se se tratasse de um interruptor entre a sonolência e os estados de alerta.
A exposição à luz solar tem igualmente um efeito benéfico sobre o humor, já que favorece a produção de serotonina, hormona responsável pelo bom humor e felicidade, apresentando um efeito antidepressivo. Não é em vão que no verão nos sentimos mais felizes e mais ativos, e no inverno com pouca energia, motivação menor e com uma sensação de inatividade, devido ao facto dos dias serem mais curtos.
Em Portugal, a depressão sazonal não atinge níveis preocupantes, ao contrário do que acontece nos países do norte da Europa, com longos períodos de fraca intensidade luminosa. Nestes países, é comum a utilização de dispositivos de luz artificial para tentar mimetizar os efeitos benéficos da exposição solar, com o intuito de contornar a ausência de luz no período de inverno e de evitar a depressão sazonal.
Ainda assim, dada a situação pandémica que o país atravessa desde março de 2020, no último ano a depressão sazonal ganhou outras proporções. Isto porque a vulnerabilidade psicológica do confinamento aliada à menor exposição solar leva a que as pessoas se sintam mais tristes e com menos energia, o que em consequência pode levar à depressão sazonal.
Com isto, podemos dizer que a luz do sol assume um papel importante para a manutenção dos ciclos biológicos, assim como para o tratamento de distúrbios do ritmo circadiano, ajudando a conciliar o sono.
Através de experiências de longo curso, os efeitos benéficos dos banhos de sol têm também sido reconhecidos em doenças específicas da pele. A radiação UV exerce uma função imunossupressora e anti-inflamatória sobre a superfície cutânea, inibindo os processos de reparação e regeneração. Ou seja, a pele fica menos reativa face à agressão externa da radiação UV. Atualmente sabe-se que certas patologias como a psoríase, dermatite atópica e vitiligo beneficiam do tratamento com radiação UV.
Por tudo isto, não se esqueça de aproveitar o sol mas de forma adequada. Faça do sol o seu aliado e não o seu inimigo: proteja-se!
É aconselhável evitar exposições entre as 11h e as 15h, período durante o qual as radiações são mais fortes, devendo procurar sempre uma sombra nas horas de maior calor. É também fundamental a utilização de protetor solar de forma repetida ao longo do dia, o uso de chapéu e óculos de sol.
É igualmente importante ter atenção à exposição solar em caso utilização de determinados medicamentos (tomados ou aplicados na pele) que podem agravar os efeitos adversos da radiação e aumentar a sensibilidade ao sol, com risco de grandes queimaduras solares para pequenas exposições.
Fique atento às nossas redes sociais onde iremos dar algumas dicas para preparar a sua pele para os dias de sol que se aproximam!
Artigo elaborado por Marta Santos (C.P. 23010) – Farmacêutica na Farmácia Colombo