De acordo com os dados da 6.ª ronda do COSI Portugal (2022), sistema de vigilância nutricional infantil integrado no estudo Childhood Obesity Surveillance Initiative da Organização Mundial da Saúde/Europa, coordenado pelo Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge, na sua qualidade de Centro Colaborativo da OMS para a Nutrição e Obesidade Infantil, em 2021/2022, 31,9% das crianças tinham excesso de peso, das quais 13,5% apresentavam obesidade.
Entre 2008 e 2019, Portugal sempre apresentou consistentemente uma tendência invertida da prevalência de excesso de peso e obesidade infantil, mas em 2022, esta tendência parece não se confirmar, tendo havido um aumento 11,9% para 13,5% na prevalência de obesidade infantil e de 29,7% para 31,9% na prevalência de excesso de peso infantil. De acordo com estes resultados, Portugal situa-se a par da média europeia (29%), com uma em cada três crianças a apresentar excesso de peso.
Começando pelo início, será que sabe o que é a obesidade infantil? Nós esclarecemos: A OMS trata a obesidade infantil como uma das epidemias mundiais, assim como a obesidade em adultos. Atualmente, é considerada uma doença crónica que tem como característica o excesso de peso, comumente causado por associações genéticas, comportamentais e ambientais.
Muitas vezes a obesidade infantil é vista como uma condição que ocorre por fatores genéticos. Contudo, já está muito estudado, e comprovado, que outros pontos podem assumir muito mais importância, como os ambientais e comportamentais, que envolvem a alimentação e a prática de atividades físicas. Tendo isto em consideração, é inevitável observarmos como as crianças de hoje acabam por trocar brincadeiras estimulantes com prática física por atividades que promovem o sedentarismo, como a permanência excessiva em frente aos mais variados ecrãs.
Além disso, os hábitos alimentares familiares afetam a nutrição das crianças, visto que o consumo de alimentos processados e ultraprocessados é cada vez maior. Crianças expostas a ambientes que propiciam a obesidade infantil favorece também a ingestão de alimentos pobres em nutrientes, fundamentais para o desenvolvimento adequado.
Para evitar a obesidade infantil, ou até prevenir essa condição e evitar que a criança se torne num adulto com excesso de peso, os pais são responsáveis por contribuir para que os seus filhos tenham alimentação adequada e saudável.
Os hábitos alimentares devem ser formados ainda na barriga da mãe, estendendo-se para os primeiros anos de vida, e seguindo por todo seu período de crescimento. Com a introdução alimentar correta aos 6 meses, a criança deve ter oferta e aceitação de variedade e quantidade de alimentos nutritivos com o passar dos anos, assim como estímulos para atividades físicas.
Existem várias estratégias, que devem ser até adequadas e personalizadas a cada criança, mas a lista que vos damos a seguir pode ser um ótimo ponto de partida:
- Evitar, precocemente, alimentos sem qualidade nutricional, como açúcares;
- estimular a prática física desde cedo, para que sejam realizadas de forma prazerosa;
- estimular hábitos saudáveis à mesa, sem a utilização de aparelhos eletrónicos;
- respeitar a saciedade da criança;
- estimular um tempo maior para a refeição;
- evitar o excesso de líquidos no momento da refeição;
- evitar consumo excessivo de alimentos como frituras, bebidas calóricas, processados e mais.
Como vimos, para evitar a obesidade infantil, além de bons hábitos alimentares e o estímulo de práticas físicas, também as consultas de rotina, inclusive as de nutrição, também são fundamentais na vida da criança. Por isso, é muito importante mantê-las, contribuindo para o crescimento saudável e desenvolvimento adequado da criança e adolescente.
Dra. Inês Morais, Nutricionista Cuido